25 novembro, 2009

Os sentidos


Não sei da onde vinham as línguas, por todos os lados as sensações eufóricas e os olhos que não continham-se de tanta leveza e se fechavam como a boca de encontro á brisa. As pernas de pinça, seios justos porém muito belos, pele clara e pescoço perfumado de entranhas, voraz eram as mãos que se ajustavam a todo e qualquer espaço na silhueta discreta, naquela noite totalmente abandonada por qualquer tipo de infelicidade.
Perguntei se ela queria alguma bebida, podem não imaginar algo assim vindo de mim, mas claro que me comporto com total delicadeza e educação diante de momento tão incrível, era tudo o que eu precisava para relaxar durante aquelas próximas férias, era sem dúvida uma despedida de solteiro (disso só eu sabia). Ela aceitou, cobrindo o colo com um lençól avermelhado cheio de raios pequenos amarelos. Me virei e por cinco segundos ri.
Podia ouvir algumas músicas ao longe numa festa no outro quarteirão, algo do tipo brega romântico, umas letras bem antigas as quais eu sabia de cor e me indignava a cada frase cantada, sem dúvida muito estranho. Ela continuava rindo ao me ver deitada na cama ao seu lado cantando baixinho e segurando um copo de cerveja um tanto quanto quente, cheguei a imaginar que o calor do ambiente influenciou uns cento e dez por cento no aumento de temperatura do copo (risos).
- poste isso! - lembrou ela, me vendo escrever esse mesmo texto alguns minutos depois num caderno velho de anotações e poesias.
- Não gosto muito do fato de outras pessoas entrarem assim na minha intimidade tão linda, quero guardar apenas para mim esses momentos e gozar novamente cada vez que ler tudo e tudo, indo e vindo, cada vírgula dessas revirando os olhos de prazer nas lembranças. Veja só, sou muito egoísta, não?

Sou egoísta e sou tudo, uma puta em busca de amor, em busca de desejo nessas camas. Podemos ser felizes com dois corpos juntos, um sobre o outro, em qualquer lugar.
Podemos utilizar de tudo para os mais variados tipos de felicidade, no sexo, nas mãos, no olhar, nas caras e bocas, nos cheiros, nos amores, nas amizades, no espalhar de todos os sentidos que se perdem por aí.

Te declaro...


Eu passei a necessitar de corpo feminino cada vez mais, antes sentia um prazer filho da mãe por uma boa mulher, mas era só assim de leve no corpo, um arrepio pequeno. Agora eu sinto tantas outras vontades, e maneiras, minha cabeça explode, eu posso sentir as pernas tremendo e os seios girando, e as bocas...

24 novembro, 2009


"Os cabelos não tão lisos caíram sobre o rosto. Para retirá-los ela ergueu a cabeça, então viu o céu tão claro que nem parecia um céu comum dos dias comuns, uma lua quase cheia e era possível ver Júpiter e Saturno muito juntos. Vista assim nem parecia uma moça vivendo, era pintada em aquarela, estatizada como se estivesse muito calma, e até estava, só não sentia mais nada, fazia tempo. Tive vontade de sentar na calçada daquela rua e chorar, mas preferi entrar numa livraria, comprar um caderno e anotar sonhos. Cuidado com ilusões, mocinha.
... Me queira bem. Estou te querendo muito bem neste minuto ...
É uma imensa miséria o grande amor - após o não, após o fim - reduzir-se a uma ou duas frases frias e sarcásticas.

E quantos mais ainda restam na palma da mão?
Quantos desse que carrego dentro da pele, dos que batem...
..vezenquando a gente fica triste sem motivo, ou pior ainda, sem saber sequer se está mesmo triste.
Hoje existir me dói feito uma bofetada, mas é isso aí,
ainda é bom amar.
Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração eu sigo."

Indiferente distância, quase violenta


"De repente eu quero violar com minha boca ardida de álcool e fumo essa boca ao meu lado. Vou desejar desvendar palmo a palmo esse corpo que há tempos supões, com a mesma linguagem dos filmes eróticos para moças, até que tua língua tenha rompido todas as barreiras do medo e do nojo, até que minha boca voraz tenha bebido todos os líquidos, tuas e minhas narinas sugando todos os cheiros. Clichê cinematográfico, peças vermelhas de roupa cintilando jogadas ao chão."

Limites


És ligada a três vertentes, certamente seus princípios não são os mesmos, não tem o mesmo cheiro nem a mesma importância para os olhos de teus amores. Droga de blasfémia. As decisões tomadas irão afetar tanto esses órgãos espremidos que ninguém poderá imaginar a dor antecipada de quem escreve. É incrível, não pertenço a nenhum gênero. Amores e escolhas.

"Ah, se eu pudesse escrever com os olhos, com as mãos, com os cabelos - com todos esses arrepios estranhos que um entardecer de inverno, como o de hoje, provoca na gente."

Revirei


28.10.09
Eu vivia regada a filme e refrigerante do supermercado imperial, o ontem sozinho de mim e daquela cama enorme que pela manhã parece ter enfrentado horas de sexo. Pobres pés. É uma doença totalmente explicável, tem haver com inquietação e estresse. Os planetas agora giram sobre outra frequência, até pouco tempo passava despercebida sobre meus olhos, e isso também é totalmente explicável, pareço ter dislexia.
É encatamento, os pequenos momentos de uma série de sorrisos, abraços, beijos, palavras, silêncios... É tanto bem, um desejo único e muito bem aplaudido por toda a força do meu corpo. Há um livro ainda não publicado, mencionando cada vírgula do pós neve, do pré outono, das flores em pliê.
" Essa sensação de magia eufórica vem das minhas entranhas, vai até a pele de cada um deles, sinto queimar como queima em mim, o cheiro de amor. Devíamos viver juntos por eternidades distantes, um mundo coberto de odor floral que vem do piscar de nossos olhos, radiantes ao pôr-do-sol, ao nascer da lua, ao crescer de tudo. Esse desejo constante de peles quentes sobre lábios molhados, um carinho tão curto proposto, meu amor sobre todos os muros de todos os castelos dourados, uma tão grande felicidade contestada apenas pelo tempo de espaço, espaço que deveria ser curto, um quarto, uma sala e uma cozinha. Um grande romance enamorado. "

Ao pós dele eu respondi

"Trazemos na vida esse filtro seletivo, e assim, vão ficando as coisas e as pessoas que realmente contam.O amor é sem dúvida algo que não sei, pode até ser sim falta de QI mas é também uma coisa para enlouquecer a gente devagar.Você sabia que de alguma forma ele continuava alí. Algumas crateras, grandes pedras. Em algum lugar da cama, do quarto, da mente, de todo o espaço.
As ilusões sempre foram profundas e enganosas feito o mar, e amar muito quando é permetido deveria modificar uma vida (e modifica)."

18 novembro, 2009

Cicatrize o " amo como quem não teme "
Por que amo como quem sente frio,
aquele que arrepia o pêlo do braço
Amo como quem morre no verão,
agoniando tudo e qualquer coisa
Amo como o que não vejo também é amor,
empurrando a sorte do escorregador
Amo o sempre amor,
felicidade que goteja na testa abrindo sorrisos
Esqueça-te um pouco, aquelas noites salgadas
Amo como quem não mente
Amo sem amor
E ele te leva aos fundos poços do liberto destino,
e vais com ele
E vais com ele como se fosse eterno.

16 novembro, 2009


Me bateu uma vontade estranha de não querer saber ler, quase igual a vontade de não querer ter nascido, quase igual a vontade de não querer me apaixonar, e quase igual. Com almofadas na boca, os cheiros pelo corpo que logo vão embora, e rodam, inultimente abafados com as mãos.

A poeira é tão mais concentrada aqui, posso saber o que não tenho e contar em uma mão o que sobrou. Um rádio que muda de estação, parede com marcas de pés e estantes nomeadas com caneta permanente. É tudo uma imensa mancha que só consome o meu corpo de uma forma não tão boa, e vai mutilando com lápis de ponta fina a mão, riscando a testa antes de dormir, abraçada com o travesseiro estampado, TV ligada até de manhã, sem controle remoto não consigo me mover para apertar o botão lá em cima. Também não tenho o controle de mim, não subo nem desço para apagar-me, apelo á uma caixa de remédios tarja preta e assim me sufoco sem ver.
Só não me importo mais, afinal, caí no mesmo jogo de bate e quebra, só que agora os resultados favoráveis são impossíveis e inesperados. E assim eu não consigo dormir, não faço nada que não tenha nada no meio. E assim faço tudo pensando em nada, faço nada e quero tudo.
Não preciso mais de água, e é uma decisão sensata.

15 novembro, 2009

Dias longos

A madrugada sobre medida, incostância, água e saliva de cloro. Dores flutuantes quase insuportáveis no pescoço, roupa molhada na pele quente, dividimos (nós cinco) um colchão pequeno na varanda voltada para o mar, apertadinhos e sorridentes, ouvindo Björk e falando de música, sexo e nós. O francês quente precisava de um banho gelado, ficou na vontade. E durou... Não até amanhecer, mas durou.

13 novembro, 2009

Melosos


Estava refletindo às sombras, perturbada
Perturbadas estavam as pupilas, perfumadas
Perfumadas e contínuas as maçãs, ingênuas
Ingênua era a dona desses olhos, passado
Passado era o teu dengo, meloso
Meloso é o teu cheiro, o teu cheiro
Meloso é esse novelo
Melosa sou eu, assim de se lambuzar
De se lambuzar é tua pele, tua voz, e eu...
Eu sou melosa demais pra ouvir-te em silêncio.
Ficar preso em si é a melhor maneira de chamar atenção...
E chamar atenção parece ser uma maneira falha de querer recolher-se.
As fases são incríveis, extremamente lúcidas.
Mesmo com o barulho que faz no ônibus, até peguei estradas erradas dia desses... Mas as fases são incríveis.

Poderia ter dançando toda a valsa ontem...
Com nossos seis braços.

10 novembro, 2009

No compasso do " the end "


Eu juro que tentei me controlar diante das cores saudosistas, os olhos piscavam tão intensamente quanto meus pés a bater no chão, tic tac, tic tac, soava o relógio no tempo que não passava. A voz soou rouca e descompassada enquanto o sorriso embebedado de H²0 ia fluindo pelo salão expositor. Me gritava por dentro, eu sei, minha corrente não funciona e as peças enferrujaram. Se a doença pode me causar solidão estou então à caminho do hospital, desfalecida e imprópria. Impróprio seria aquele momento, de tão perto podia sentir o cheiro de espinhos afiados sobre o caule da árvore apodrecida, não sei se era meu jardim, talvez fossem meus pesadelos aflorando. Ouvia e via a dança, pupilas ditaladas e atentas, parecia meio tonta diante das pessoas ao redor, talvez fosse de minha imaginação, entrando nos contos míticos.
No caminho de volta janela aberta e o vento forte no rosto - me fazendo enrrugar toda pele. Percebi então, na verdade senti, um buraco enorme que ecoava faminto dentro de mim. Poderia ser sim falta de alimento, não comia desde cedo e havia gastado saliva à toa por algumas horas, mas não era... Parecia uma espécia de úlcera, era mais forte que qualquer agulha na testa ou no quadril, me consumia de uma forma escândalosa me fazendo pensar apenas em uma solução definitiva para os problemas de dias quentes demais.
Desisti das aulas de canto, não sei compor música, perdi a voz quando quis gritar de ódio e sumir por alguns dias, eram fatos ausentes, eu era a espectadora de mim mesma. Talvez sirva de lição pra algo, ainda sei lavar louça e limpar o banheiro, tomo banho mais de uma vez por dia e uso shampoo qualquer. Eu sirvo pra mim em algumas utilidades. Só é uma crise, e agora a gente faz o quê mesmo?

09 novembro, 2009

Coração


Na época todos tinham um desses, penduravam no pescoço e empurravam pra dentro da pele. Eu não ligava, me divertia mais com um prendedor de roupas azul que vivia no meu dedo até deixá-lo roxo. Juntava as garrafas de vidro de Coca-Cola e fazia obstáculos para minhas partidas de biloca. Ter um coração pulsante não era moda, não para mim. A sua única utilidade seria me manter respirando, e disso eu também reclamava, sempre tive problemas respiratórios. No geral não tinha serventia, nem tinha cor.
Hoje em dia eu sou colecionadora de prendedores de roupa, tenho um varal anti-coração e durmo num quarto branco. Sou dependente de remédios e amigos, alguns números me consomem, acordo todos os dias no mesmo horário e tomo banho gelado pra espantar os pesadelos. Ainda não respiro bem, mas todo dia há um prendedor novo.

Lembra de mim?

Lembra de mim? Voltei!
Com a cara toda amassada, cheiro de cigarro no corpo
A bebida consumiu até o que eu não tinha
Aquele copo quebrou meu último dente
Não enxergo mais depois da queda
Lembra de mim?
Eu fui tua namorada ano passado
Andava com aquelas amigas de salto
Fumava charuto na casa da vizinha
Bebia vodka na garrafa d'água
Transava com o gato de pelúcia e gozava pena
Lembra de mim?
Eu já fui alguém no passado
Enrrolava tua mão no meu cabelo
Sangrava alegria e secava tristeza
Morria quase nunca
Era totalmente sóbria
Lembra de mim?
As estradas que eu ando vão se apagando
Os bares vão fechando as portas
Tenho uma ferida antiga entreaberta
Vivo calada nos cantos do quarto
Uso óculos e leio poesia
Lembra de mim?
Eu ando muito esquecida...

Pó compacto


A impulsividade de longe sempre foi um defeito, de dentro pra fora mesmo, era um tamanho desespero misturado com uma tamanha vontade de me jogar primeiro de qualquer prédio, lá estávamos nós apostando corrida e eu já havia chegado. Sempre caindo, entrelaçando os pés que não sabiam da sua ordem nos passos. Digo que a impulsividade e a carência são meus maiores defeitos, os outros são consequência, e faz sentido. Eu sempre vou expor meus defeitos a alguém que vai odiá-los e aquela pessoa certamente é a que eu mais amo. Eu irei tentar mudar o mais rápido possível ou encontrar uma outra coisa para me fazer esquecer que amar é o único objetivo da vida. Realmente não consigo montar imagens, acabo ensaiando aquelas reações mas no final me desmancho junto delas, é como água num pó compacto.
Tenho pensado no significado de tudo isso...
Acabo dormindo no final.

04 novembro, 2009

Evasão


As cores e os ferrões, tecidos quentes, estampas que camuflam os olhos recém acordados, asas aparadas na viagem ao chão, ignorando a possibilidade de vôo longo, longo ao longe.



Ignorância aparente, pernas cruzadas, braços entrelaçados e cabeças à posto, letra na boca, melodia nos dentes, abraços quentes e saudade esquecida. Ventilam os copos, saliva nos pêlos, doce na língua e olhos fechados. Vergonha decotada, unha quebrada, histórias relembradas e delírios em massa.

As trocas foram feitas



A brisa leva o que não trouxe. A porcelana quebrada no tapete da sala. Ontem. Os travesseiros então eram revestidos de cacos de vidro, cama de alfinetes e cordas. As gaiolas pertenciam aos olhos, aprisionados e famintos. Tirei a armadura, gritando aos dez mil ventos, e assim fere mais, e assim vai ser. Tirei a máscara, caindo nos treze mil cantos, e por aqui vive-se mais, e assim morri-se mais. Feitos de lâmina e aço.
A nudez do sentido veste minha angústia.


03 novembro, 2009

Juntando


O que faz dessa viagem a longo prazo eternidade são esses sorrisos.Somos fracos o suficiente pra querer continuar, continuando e andando,correndo, caindo, ah, enfim. Ignorando essas demasiadas tentativas de fuga,raciocínio lógico ou desespero nos fins de semana em cárcere. Paramos, olhamos, seguimos, mãos dadas em calçadas sujas e olhos límpidos, lua no centro, estrelas em ponta, cabeça inquieta.Fracos o suficiente para nos deixar contaminar, e nos deixamos,largados no tráfego. Despindo a imagem, vestindo na margem, voltando...
Eternamente ébrios.
E vocês são minhas estradas sóbrias.

Voltando


A embriaguez no porto da mente carrega os náufragos, carrega o tempero, o chapéu, a roupa molhada, o chinelo desbotado. A embriaguez permanente, a neura permanente, os distúrbios de humor, humor perfume e sentido. A sensação permanente que anestesia os pés, o formigamento no peito e depois as quedas e tropeços e quedas e feridas. No exterior do consciente aquele velho cobertor rasgado que ainda esquenta nas noites com a janela aberta.
É permanente. O cheirinho de jardim...