09 novembro, 2009

Coração


Na época todos tinham um desses, penduravam no pescoço e empurravam pra dentro da pele. Eu não ligava, me divertia mais com um prendedor de roupas azul que vivia no meu dedo até deixá-lo roxo. Juntava as garrafas de vidro de Coca-Cola e fazia obstáculos para minhas partidas de biloca. Ter um coração pulsante não era moda, não para mim. A sua única utilidade seria me manter respirando, e disso eu também reclamava, sempre tive problemas respiratórios. No geral não tinha serventia, nem tinha cor.
Hoje em dia eu sou colecionadora de prendedores de roupa, tenho um varal anti-coração e durmo num quarto branco. Sou dependente de remédios e amigos, alguns números me consomem, acordo todos os dias no mesmo horário e tomo banho gelado pra espantar os pesadelos. Ainda não respiro bem, mas todo dia há um prendedor novo.

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