29 setembro, 2009

Pois é

" Avisa que é de se entregar... "
No amanhã que não se diz, pois é. Não deu.


Tabuleiro

É simples, substituindo o fator 'fim' por um jogo desses de destruir oponentes. Sabemos que irá acontecer, como a morte ou uma separação, mas não sabemos como irá acontecer. Podemos limitar os fatos ou construir vários desvios e novas estradas que antecipem algo, mesmo que durem minutos a mais... Juntando as peças e crescendo a cada jogada, imaginando e modificando o final só pelo prazer de jogar até o fim, apressando ou não um dia a jogada acaba e consequentemente o jogo, mas usamos todas as armas. Os aptos a jogar se acostumam com o final. Ao perder eles iniciam um novo jogo por diversão.
O único lado bom de morrer de amor é continuar vivo.

28 setembro, 2009

Fato


Cabelos longos encontram paredes pálidas, o som da porta abrindo e quase fechando, nunca batendo, nunca rompendo minha visão. As barreiras dissolveram como remédio pra azia, minha azia permanente e desgastante. Encarei a face lúcida como encaro as ondas do mar na madrugada, no meu mais belo temporal de sal, deixando as farpas saírem por si só e sem cicatrizar depois. A ausência de vida lá fora a dois palmos de distância de mim, mundo isolante, cinza e de plástico, meu.

Trazendo sempre a expressão de insônia, minhas olheiras parecem respirar mais do que eu, e minha respiração se confunde com a de um peixe fora d'água, as consequências são semelhantes.
Ouvia uma melodia aguda, uma nota soando das cordas de um violino prateado, tocado suavemente com os dedos, uma imagem formada e admirada quando estávamos perto do céu, deitados ao lado de um ninho de pássaros. Basta estar no caminho, uma janela para a divisão de meios, permanecendo no centro do furacão cinza observando as nossas duas escolhas: virados para o sol, cegos, pondo os dedos sobre o rosto.
Ou admirando a escuridão que traria a chuva,
à minha direita. Eu nem precisaria pedir, apenas senti as gotas caindo sobre as pernas esticadas ao vendo, sorri, e eufórica mantive o gozo, até o dia amanhecer, novamente.
Ouviram as confissões da madrugada
Um travesseiro rasgado e olhos inchados
Meus sonhos solúveis em água.

...

Numa conversa nada profissional sobre insetos...Eu, ele e ela. Nós. Insetos. Comendo o resto das frutas no chão, aproveitando o gosto amargo. De repente, os três morrem.

No fogo o gelo vai queimar


No fim tudo cai e a histeria reina em tempos de carência. Confidenciei os traumas e aflições, as paixões joguei na cara e precisei nascer de novo para abrir os olhos e voltar a me banhar com o cinza do céu presente em todos os meus dias. Azul não é cor, apesar de parecer ser bonita. O ar sumiu, me sufoquei diante de uma foto, de uma letra seguida de outra errada e de cor branca,
branco não, odeio branco. Não apresento mais sentido, combinei com ele, o menino esquisito. Farei nada para receber nada, ou tudo, ou o que quiserem me dar, e, a ordem era essa?

A minha letra invertida, a velha música que descreve nossas mãos dadas. Sem sentido, sem certeza, sem cor, sem aqui. O meu agora foi ontem, amanhã vai chover amor. Sinto saudades,
vontades, e sinto as mudaças contornando o meu espaço, meus ouvidos doloridos pelos gritos
que dei numa maneira só minha de me afetar diretamente.

Outro dia vi uma partitura nos fios de eletricidade, tanta loucura unida, os delírios meus que
confundem e geram linhas inseguras. Poderia fazer uma greve de palavras, seria uma forma de
suicídio. Sem sentido, sentidos vários, esquerdas e direitas, um passo a frente para a queda
deslumbrante. Um jeito meu de me mostrar.

26 setembro, 2009

Triamo

E foi, é, será. Dos sorrisos aos tapas,
mãos dadas e corpos saltitantes, palpitam faíscas
de felicidade em cada piscar, os dentes parecem se encontrar
com as orelhas unindo-se numa coisa só.
Se sabemos amar isso sim é amor, juntando
três para formar um, um em um que formam mil.
Abraços longos, curtos, suados, nossos. E o que
acontecera, sempre formará, apontará e voltará
a essa junção de pontas perfeitas que formam
a primavera inacabável, tanto a juventude
quanto as lembranças, eternas. Cada passo,
melodia, lombra, chão, piada, nave... Cada dia.
Cada instante juntos com o tempo passando sem nossa
espera. Não estou lombrada todas as noites,
mas todas elas com os dois são foda!

25 setembro, 2009

Fórmula contrária

O mar, de cima.
As cigarras que falavam,
tremian tanto; faziam círculos em meus pés,
uma fila de sorrisos que deixavam trêmulas
as mãos por dentro do casaco.
O breve esquecer das abelhas,
invertendo os papéis do esquecimento.
Não lembro.
E o que eu lembro são partes
do que aconteceu ou é o tudo?
Só.

23 setembro, 2009

Desejo-lhes o meu silêncio, por enquanto.

Circulares

Tudo o que passa por nós é vento.
Sim, e vem forte, leve, frio, quente, vem,
e vai. Todos os dias no mesmo horário
paro e olho para o mesmo ponto, ou permaneço
sentada no mesmo quadrante, em linha reta.
Percebo então que ao menos uma rachadura se formou
no chão, ou uma película de tinta se desgastou no portão.
Somos de muitos, de tudo, mas, nunca de nós mesmos,
e quem dera algo nos prendesse pela eternidade,
ou não, o cotidiano paranóico é inútil, e o que vem
com ele também. As folhas do outono sempre vão,
e com elas as lembranças da estação.
Os dias mais belos porém são os de chuva,
os ventos que nele vem são circulares.
Um viva aos dias de merda!

Destilando veneno


Da loucura que te expõe, juntamente ligada
a vontade de gritar, agir, esquecer, doar.
Entorpecer.
Padecer.
Transparecer.
Buscar em nada algo mais que te segure,
agarrar-se as paredes protetoras.
Fuga forjada.
Nuca molhada, sopro, arrepio.
Perto, aqui, longe, aqui.
Vai chover - e não água.

22 setembro, 2009

Enfim


Não houve.
Vultos artomentados, apressados, cansados,
traídos, traidores.
Apreciei.
Havia a saudade que em mim batia,
o barulho pausado entre cada respiração,
um, dois, mudo, três, mudo, mudo...
Não mudou.
Silêncio, sem olhares, nos mares da terra,
chão de espinhos, indo.

Era.
Poderia ter sido três, novamente.
A cada passo um grão de areia invade o olho,
vem e flutua sobre a íris, sem cor.
Tanto.
A fala, o sentir e o não agir.
Parar.
Camuflando, sempre.
Máscaras caídas e um carnaval sem fim.

21 setembro, 2009

Por agora

Talvez as cores expliquem bem possíveis
hemorragias internas. As marcas e o tempo,
o soprar que não é tão forte quanto antes,
a não-vontade do querer ser e poder não ser.
Possivelmente consigo esconder
entre os laços pretos tal risco de sangue,
defeitos da vida, imperfeições.

Andar com pernas tortas,
sentir o que se foi, lembrar o que não existe,
fugir para lugar nenhum.
A realidade de hoje, sobre quatro paredes
num hospício, leões ao ataque,
banquete servido, o almoço sou eu.
Eu perdida, imunda e sozinha (por agora).

Saudade dos dois lados de mim.

Segundos

Poderia não aterrisar.
Perto das nuvens, conversando com os pássaros,
admirando a cicatriz no céu, o sol descansando...
Cobrindo, fugindo.
O ar, a companhia, os pés livres,
a minha liberdade de minutos.
Lá em cima, onde tudo é esquecido.
Silêncio. Calma, carma, cama.

O sol se foi,
num intervalo de alguns poucos segundos
o espaço tornou-se minúsculo e sufocante,
no céu só restava as paredes de aço cinza.
Queriam anunciar algo.
Chuva, então.
Contando até três e voltando a realidade,
encharcada e vaga.

20 setembro, 2009

Fragmentos



Tenho um gosto doce na boca,
meus morangos mofados.
Na teoria podes ser o que quiseres.

"De vez em quando eu vou ficar esperando você
numa tarde cinzenta de inverno,
bem no meio duma praça, então os meus braços
não vão ser suficientes para abraçar você e
a minha voz vai querer dizer tanta,
mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme..."

Refleti intensamente sobre um feixe de luz,
embora impossível consegui ouvir
a refração no espelho opaco.
Subtraindo os átomos, eu e a clave
escorridas no chão de poeira,
tanto chão. Entre meia hora e meia
palavra eu sorria contente em companhia
das sanguessugas, nos alimentando
e matando a mesma sede.

Talvez


Talvez ela possa te esmagar.

19 setembro, 2009

Insanidade breve

Sabeis lembrar o ponto de partida.



O tédio agora renova o interno.



Incertos porém do que planejamos para
parecer ser o futuro, ou consequência
decadente de passado.

E as consequências apesar de breves
levam a sanidade instantânea,
todos os dias.

Simbologia


Denomidada a forma geométrica mais firme que existe.

Antes que eu esqueça

Doce melodia, torce e afunda em água e sal
todas as mágoas que por sentido algum teriam
de retornar a nossa miséria. De tantas tolices
unidas uma a uma, restou a vergonha que escondemos
discretamente sobre a carcaça que finge nos proteger
ou a qual fingimos estar protegidos.

Impossível estar imune aos raios de sol,
ao menos uma vez sentir-se queimando, e,
embora a chuva seja mais agradável,
a nossa fadiga implora acordar junto a nós,
junto ao que restará do vento um dia depois.

E são doces as manhãs que deixam a pele salgada,
os olhos vermelhos, corpo de areia. Amarga é a ânsia.
Tal medo perfura meu estômago, a insegurança,
a saudade, o tesão. Tão conturbada pareço estar,
a vida e nós. Após as sete horas da manhã perco a memória.

18 setembro, 2009

Todo

São tempos de honra,
as revoluções nossas infectam o corpo externo
numa tomada rápida como em um filme de drama.
Drama nosso de cada dia (diz respeito a mim?)
Os outros animas por coincidência se assemelham,
relatam os dias de solidão a dois.
Rimos.
Meus momentos de solidão (os que mais me devastam)
são sempre a dois. E por fora, a casca que nos
reveste bebe a culpa.

Não somos (ilusionistas)

- Esse ano tudo se quebrou algumas vezes... reviveram, quebram de novo, reviveram, quebraram de novo, e assim sucessivamente.

- Eu não posso mais ter medo dos momentos
em que as partes se quebram...
Mas sempre, de repente, acontece e fim.
E eu sei que sempre vai acontecer mas sempre sou surpreendida pelo acaso.

- Eu não sei mais de nada.

- Eu nunca soube.

- Eu várias vezes já pensei saber.

- Somos tão iludidos, não?

- Somos.

- Bem, poderíamos escrever um livro sobre indecisões e ilusões.
Com certeza seria uma leitura reaproveitável.

Descaminhos meus

Aos sete anos, deitada em uma cama
descobrindo o prazer, não sozinha.
Inconscientemente sabia o que fazer e o
que queria ser. Aos pontos fortes da noite,
voltando ao agora, não gozo mais fora de sua boca.
Ao dia que banha outras armas,
de preferências infindas e que trazem desejos momentâneos.
E se fosse pra escolher que me deixasse sozinha,
graduando as aflições num travesseiro bruscamente
revestido de tesão, fora dos meus padrões de qualidade.
E que seja um pecado sonhar com
anéis, braços, barriga, seios, pernas...
E que seja loucura a imensidão
de imagens que se propagam na caixa preta
do consciente que há em mim,
buscando fôlego da onde viera a calma.
Amarrei-me junto a mesa, não consigo controlar
o corpo, retorce, implora, clama.
Arranca de mim o suor que resfria o colo,
é como se esperasse imóvel no quarto, deitada
e aberta, junto ao amontoado de pano,
dedos em pânico.
Junto a porta, num soprar, afundar
minha mão sobre ti, fechar os olhos
e suspirar, por um minuto.
" A mala pronta, o corpo desprendido,
resta a alegria de estar só e mudo."

G i r a


Gira o universo,
Giro também,
Sou Gira,
Sou Louca,
Sou Oca.
Sou tudo o que vocês quiserem,
Mas que sou eu?

Pronomes


" - Entregastes a mim um bilhete dizendo "amo-lhe".
Se amasse a mim deveria dizer " amo-te". Dizendo "amo-lhe"
declara que ama a uma terceira pessoa.

- Deveria responder?

- Não haveria fuga possível mesmo. Prossiga. "

17 setembro, 2009

Hoje

Conseguem ver um traço se formando acima das núvens?
Certa estou, e não foi acaso. Sorrisos no rosto
e as palavras que saíam apertadas, fazendo planos
por elas mesmas. Os próximos três dias vão
ser feitos de saudade.

(des)caso


Ouço vida pela manhã, deito aos olhos acordados,
espero o deleite do clima, paro e calo,
no mesmo ritmo todos os dias, respiro e calo.
No mesmo instante todas as noites,
refaço e paro, ao acaso.

Livros

"Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:


Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.


Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.


Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura."

16 setembro, 2009

Diálogo com o espelho


Não sei a cor de seus cabelos,
também não sei do que tens medo,
sei do que gostas (além do sabor do refrigerante...)
Mas na verdade eu só sei o que me deixam saber,
sendo o além do que é visível, sendo eu invisível.

Eu e o tempo

Qual o preço da eternidade (agora)?
Os ponteiros do relógio se movimentam e por fora
perguntam-se até quando ficarão circulando,
circulando, circulando...
Até parar, e o tempo para, dentro do plástico.
Então somos relógios, uma caixa absorvente
de tempo. Nos fazemos perguntas, desejamos,
sonhamos e... Tudo o que temos é tempo.
O que se pode ou não aproveitar,
o que não há como ser feito no momento
da vontade. Necessidade ou saudade.
Uma vontade apressada, eu e o tempo!

Ninguém

Fez-se a loucura, junto a melancolia.
Talvez eu pudesse ir embora, perder o espetáculo
e retornar quando os pássaros calassem, seria
um afronte.

15 setembro, 2009

Exautidão


Ela era tão pálida, trazia no sorriso o peso do mundo,
fazia dos seus passos rastros de ignorância.
Tudo em volta havia morrido, inclusive ela.
Mas tudo permanecia colorido e girando, ultrapassando
as barreiras que ela havia construído com mãos atrofiadas.
Tanto fazia que acabava em casa vendo o sol dourado
atravesar a janela da cozinha, os sussuros nervosos
da outra (inútil) que no entanto só atrapalha as histórias.

Entorpecida,
flutuava no céu de papel, sozinha,
e não se queixava.
Verdades, agora de fora pra dentro,
infecção interna.
Interrompida,
calando as realidades sonolentas.
Indefinida e indolente.

14 setembro, 2009

(Relatando sonhos de ontem...)

Lembro de folhas no chão, um banco cor de cobre
como se estivesse enferrujando de tantas lembranças e ventos.
O céu era cinza, havia uma árvore feita apenas de galhos,
que balançavam no mesmo ritmo...
Espalhando cheiro de chuva e calçada molhada.
Após vinte minutos de silêncio e surdez vieram as palavras...

- Engraçado...
- O quê?
- Eu nunca soube a cor dos seus cabelos,
uma hora eles me parecem claros,
refletem a luz do sol num tom castanho, mas depois,
na sombra da árvore ele permanece preto,
como num túnel onde não se enxerga o fim.
- É, acho que você é a primeira pessoa que releva
seu tempo para perceber
que meu cabelo muda de cor de acordo com a luz.
Mas tens razão, cada tonalidade representa uma mudança interna
que eu precisava expor de alguma maneira,
são meus momentos e..
Precisava registrá-los para que todos pudessem ver.
- Eu sei, percebi isso
apesar de não ter acompanhado alguma fases..
Percebo agora o resultado de todas essas mudanças,
é assim que nós ficamos por dentro também?
Seus cabelos hoje estão secos, as cores de seu passado estão desbotando,
ou voltando e.. Me perco em cada cor,
não consigo distinguir o que é você real.
- Mas é justamente isso que quero fazer, confudir-te,
como faço comigo mesma,
mudando as cores para que fiquem no padrão desigualmente exposto,
de dentro para fora.
- (Silêncio...)

O fim...
As árvores ainda se moviam no mesmo ritmo,
o cheiro voltou, o céu ainda cinza, mais vinte minutos de
silêncio e olhares e..
Bem, eu acordei!

Não termina...




O diagnóstico de hoje preveu relações
anteriormente mencionadas,
fatos e declínios constantes, findos tempos.
Os quais eu, numa participação
inutilmente fútil me desprendi de uma linha reta,
na verdade ela se desfez sozinha
e eu apenas ajudei com a ponta do lápis.
Não sei que forma tem, o sabor eu sei,
empurrei a língua, pressionando o dente
contra a camada amarelada em tons de rosa e vermelho sangue,
um tanto quanto real.
A parte azul eu não sei, ficara olhando, mas,
nem minha saliva parecia remover...
Desprezando os outros detalhes quase invisíveis,
sem falar na dor que excitava,
causava fervor aos pêlos que juntos pareciam querer voar, deslizando por entre
as paredes cor de folha (seca). Mais surpresas por fim...
Todas as retas se curvaram ao chão,
e ao chão também escorria a única gota de sangue,
proveniente das entranhas podres de mim.
Movi novamente minha língua com propósito de saborear o ardente mel natural,
conduzindo-me ao êxtase,
pulsando e queimando as veias dentro escondidas.
Caíram todos juntos, e eu degustei os pedaços.
Agora tenho gosto de futuro na boca.

13 setembro, 2009

Viva!

Tão distante... Um andar lento e infinitamente marcante.
O que te faz feliz numa tarde de sombras?
E não sou nada, posso parecer alguém as três da manhã,
empurrando com toda força as lembranças ao redor, perseguindo-me.

De ontem para hoje envenlheci três anos...
Fecho os olhos tentando me imaginar num outro ponto,
num outro ano, num outro lugar lendo um livro,
ouvindo a mesma música.
Esse gosto amargo que ficou na minha boca,
ouvindo Bethania, bebendo soda (cáustica) e...
Arrependida.

Estou seca, oca, destilando água dos olhos
Entretando, estou viva, acima da terra
Esperando alguém passar, dar-me as costas e cair logo em seguida.

08 setembro, 2009

(des)ilusão de óptica e sentido

Interpretar é diferente de estar
Irracional e explicado pela natureza
Conceito ultrapassado seguido de um mal-estar
Se desejar é amar estamos perdidos de amor

Ignorância dos seres de pele e sangue
Estamos construindo uma fortaleza de prazer
Enfiai tua boca em meu contorno
Amigos amantes receptores de carne e querer

Farei de tudo para apagar e retocar seus passos em mim
De uma forma não tão cruel te dilacerar
Vou fazer com que se mate todos os dias
Numa forma excitante, suicida conturbada

Irás engolir todas as letras fora das linhas
Todos os suspiros socados goela a dentro
Irás comer a carne do passado em decomposição
Queimar na fogueira de suas próprias cartas

Te desejo a morte breve
Um sonho frustrado como o meu
O lixo da cozinha está cheio de você
Futuro exilado de um passado salgado.

Te escarro, futuramente adeus!

07 setembro, 2009

Do ferro ao sugo


No fundo da alma, brindando com uma taça de água ardente
Fumando o descascar da pele original
Voltamos as memórias póstumas
Onde morremos para contarmos histórias
Profundas vezes em que estive fora de mim
Senti um frio na espinha
As semelhanças de sorrisos e quase frustrações
Seguindo meus pés descalços

Voltando ao Eros, realidades constantes e futuramente mortais
Futuramente agora, levando os pontos as medidas exatas
Não saberás o que é real,
Só o que não enxergas é o que eu quero e posso ver
Seja para cima, para o lado, para baixo ou para dentro

Depois dos dias mastigados e cuspidos
Nós mantemos os olhos feridos
Na ponta da língua
Futuramente agora
Dedos de ferro, futuramente açúcar.

03 setembro, 2009

Olhos cegos que veem a luz apagada


Desconheço os fatos novos
Embora todo o novo seja uma prova de que não mudarei
Ou mudarei demais e ninguém irá perceber

Por muito tempo ouvindo conceitos múltiplos em pernas e faces
Rasguei minha pele para respirar o ar mais sujo
Em troca de tua benção recuperei meu bom senso
E também tua navalha, a que eu bebia sem sentir

E são oito palmos de abraço e mais um dedo de vingança
A pele fria ao ser cortada e depois costurada permanece ácida
A saliva podre que mantém a boca cheia é a maior prova de que engolimos vida

E são oito linhas de nada e um rosto de mágica
A manhã, amanhã, cheia de riscos no céu
Os seios fartos e eu farta de anseios

Seguindo o traço maior
Profundo e largo e cheio de insônia
Enliando os cabelos de grama
Pendurando os orgãozinhos no cabide
Amputando os membros

Falhos em vida, úteis em morte.

01 setembro, 2009

De novo

Um corredor de mentiras que atormentam
As pessoas sem rosto que me seguem
Fazem suposições de uma vida que não é minha
Escrevo hoje pela primeira vez um desabafo
Toda a perda de sentido que me causaram
Estou cega e surda

Suponho que se fosse verdade
Eu não teria tanto que questionar
Minhas escolhas, decisões, julgamentos e ofertas
São parte de mim
Ainda sim são meu problema

Creio que a vontade de agora seja passageira
Quem sabe as coisas estejam seguindo o
Caminho correto
E eu já tinha o escrito
Eles esperam para dar o meu próximo passo
Um começo sem fim

Permaneço com esse alívio atormentado
Continuo com as visões do passado
Mas só consigo sentir o vento forte
Por vez e outra vem o calor
Mas esse fora fraco e ralo
Descobri um ódio adormecido
E de tão forte me rasga a pele

Pensei em fugir de mim, mais uma vez
Adentrar no casulo que construí
Na última folha do meu caderno
Minhas palavras vomitadas depois do café da manhã
As bebo no almoço para espirrá-las no jantar

De tudo o que se foi e o que vai ser
Do cheiro de fogo que penetra em teu corpo
As listras dissolventes que embaralham o olhar
Estou sóbria há uma semana
E já morri pela quarta vez hoje!