Cabelos longos encontram paredes pálidas, o som da porta abrindo e quase fechando, nunca batendo, nunca rompendo minha visão. As barreiras dissolveram como remédio pra azia, minha azia permanente e desgastante. Encarei a face lúcida como encaro as ondas do mar na madrugada, no meu mais belo temporal de sal, deixando as farpas saírem por si só e sem cicatrizar depois. A ausência de vida lá fora a dois palmos de distância de mim, mundo isolante, cinza e de plástico, meu.
Trazendo sempre a expressão de insônia, minhas olheiras parecem respirar mais do que eu, e minha respiração se confunde com a de um peixe fora d'água, as consequências são semelhantes.
Ouvia uma melodia aguda, uma nota soando das cordas de um violino prateado, tocado suavemente com os dedos, uma imagem formada e admirada quando estávamos perto do céu, deitados ao lado de um ninho de pássaros. Basta estar no caminho, uma janela para a divisão de meios, permanecendo no centro do furacão cinza observando as nossas duas escolhas: virados para o sol, cegos, pondo os dedos sobre o rosto.
Ou admirando a escuridão que traria a chuva,
à minha direita. Eu nem precisaria pedir, apenas senti as gotas caindo sobre as pernas esticadas ao vendo, sorri, e eufórica mantive o gozo, até o dia amanhecer, novamente.
Olheiras respiram melhor que os pulmões desgastados...
ResponderExcluirTexto ótimo!