02 novembro, 2010

Marie Berit

Estamos na estrada pra Oslo, acabamos de passar pelo aeroporto de Moss e começou a chover de repente, o que deixa tudo mais inexplicável. Hoje eu iria pra escola normalmente, é terça-feira e a semana só começou, mas não, fui acordada umas duas horas antes pela minha mãe, ela bateu na porta do quarto e ao abrir disse baixinho: Mylena, acorda, eu estou sangrando. E nem parecia que eu estava dormindo por horas, levantei em dois segundos e fui trocando de roupa, jogando tudo no chão, arrumando minha mochila com mais roupas, livros, notebook, câmera, foi tudo no impulso, nem pensei no que iria usar ou não. Escovei os dentes e me encarei no espelho sem saber se daquele momento em diante correria tudo bem, mas eu tinha dormido com bastante esperança, foi o que me manteve firme, não desesperei. Não entendo dessas coisas de gravidez, se a mulher sangra por que está viva ou se é o contrário, correr ou andar devagar, chorar ou chorar. E então uma ambulância estaciona na porta da nossa casa e dois homens entram pra ter noção da situação, ela ainda sangrava, e fiquei sabendo que era normal, um sinal de que tem gente apressada pra vir ao mundo. Fomos ao hospital da cidade mais próxima que era Fredrikstad, em momentos como esse não se deve perder tempo, nem temos chance de escolha quando as coisas realmente tem que acontecer. Depois de algumas análises, batimento do coração, 2cm de ansiedade, disseram que seria melhor irmos ao hospital de Oslo onde de início a cirurgia foi marcada, e onde a esperavam.
Perdi a noção da hora, acordei às 05:45 e são 09:22, creio que estamos chegando em Oslo, parece até que desaprendi o caminho, faz um mês que não passo por esses túneis. E agora eu não sei,
tudo indica que ainda hoje terei minha irmã nos braços, e pareço uma boba, na verdade eu estou muito boba mas não consigo demonstrar muito bem e a tendência é (...) Silêncio. Ainda quero conseguir gravar o parto, mas se não isso vou gravar o decorrer do dia, se minha humilde câmera colaborar.
Acabei de reconhecer as estradas, estamos mesmo chegando, nos desejo sorte, estou ansiosa, isso é incrível... E depois de ter acordado e vivido um mês em poucas horas tenho certeza que não temos certeza de nada na vida.

(...)

Mais ou menos duas horas se passaram, agora são 11:48 e minha mãe já entrou na sala de cirurgia. Eu infelizmente não fui autorizada a entrar pra ver ou filmar, mas gravei os últimos momentos antes de Marie voltar aqui pro quarto chorando nos braços da enfermeira. Não sei explicar o que estou sentindo, só sei que daqui a alguns minutos alguém muito especial vai entrar por essa porta e eu abrirei meu coração.

(...)

E ela nasceu, pesando mais ou menos 3kg e com 48cm, olhos puxados, cabelos negros, fazia barulho enquanto eu sorria. Filmei, fotografei, chorei, falei, acho que ela sentiu.
Bem-vinda a esse mundo louco!

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