17 junho, 2010

Laranja morango

Era noite, quinze de junho, mesmo passando das onze horas ainda era possível ver aquele céu azul clarinho com uns riscos finos pintados de laranja, laranja morango. Era aquela garota dentro do mesmo carro, mesmo lado, mesmo olho brilhando pra fora do vidro pedindo gentilmente pra poder ver a lua como da última vez, na parada da sua antiga casa com uma querida amiga. Esforços em vão, mas ela continuava a olhar tudo em volta como se fosse novo aquele já velho caminho de casa pro centro, do centro pra casa. Ainda era lindo e sufocante saber que tudo aquilo era por mérito ou sorte seu, só seu, toda a vontade de ter cada esquina pra si era finalmente algo além de vontades.
Cada qual com sua vontade, a dela naquele momento era abrir aquele vidro e sentir de vez todo aquele ar entrando pela boca, nariz, pelos olhos, até chegar a um ponto onde ninguém saberia o que era ar e o que era corpo. E era necessário só um pequeno movimento pra fazer isso, mas sempre pareceu algo muito assustador, todo aquele vento, e a temperatura caía a cada quilômetro rodado, e foi. Era o vidro aberto, a boca depois de alguns minutos merecia lixa e óleo mas ela não queria, o que sabia fazer de melhor era sorrir e até assim conseguiu tornar macio novamente os seus lábios que de tão vermelhos se encontravam apaixonadamente doces sobre os dentes. Todas as ruas e avenidas, placas e flores já tinham vindo com o ar pra dentro dela, que completa, fechou o vidro para não se encher de excessos. E completa, pode partir ou voltar.

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