24 março, 2010

A bailarina e o astronauta



E o astronauta conheceu a bailarina, num típico parque de diversões que havia chegado na cidade aquela época, um passeio perfeito para dois apaixonados, mas eles nem sequer eram amigos, trocaram nomes e algumas poucas palavras e sem perceber as indiretas do destino sentaram juntos no brinquedo mais assustador que o astronauta havia entrado, era um tapete de medo que o fazia fechar os olhos sem pronunciar uma palavra sequer, a bailarina ria ao lado do companheiro de brinquedo e repetia constantemente : Abre os olhos, abre os olhos! E o mandava gritar pra espantar o medo, e ele seguiu todos os conselhos esperando que algo fizesse melhorar aquela sensação de desespero. O dia findou, até então nada demais, um encontro, algumas palavras, alguns risos e logo depois eles já não estavam mais tão juntos no parque.
Cerca de dois dias depois eles se encontram numa daquelas páginas de internet, trocam poucas palavras e novamente se afastam como dois meros colegas de pouca importância, e isso sinceramente não afetava em nada coração nenhum.
Quatro meses se passam e pela mesma página de internet os dois começam a ter uma espécie de "primeiro encontro", já havia uma vontade de querer saber mais o que se passava, quais eram os gostos, os números, os lugares. De repente surgiu uma espécie de porta transparente que os fizeram se enxergar de verdade, e assim já podiam se olhar nos olhos e dizer : Prazer, você vai me conhecer! E as conversas evoluíram, as vontades evoluíram, os desejos evoluíram e os olhos passavam a se fixar em apenas um ponto, o maior ponto que era possível ser visto e sentido naquele momento. Os planos nasceram cedo, nasceram e floresceram vorazmente na mente do astronauta, da bailarina, que se amavam enlouquecidamente por pele, por palavras, gestos, gestos indevidos. Até o signo combinava, tempo depois o astronauta reparava tudo, até a música que tocava na rádio.
E assim foi, um encontro, um banco solitário numa floresta bonita com cheiro de Eucalípto, a bailarina e o astronauta lado a lado como no brinquedo do parque, sem montanha russa, sem sustos, mas com o frio na barriga, com a ansiedade comendo os dedos, com as palavras mais bonitas. E assim aconteceu, o primeiro beijo, o primeiro falar entre olhos, entre mãos, entre tudo o que havia ao redor. E parecia não haver nada ao redor. Era mágica.
A bailarina e o astronauta então resolveram seguir caminho, os dois, alimentados apenas pelo amor que haviam construído durante os tempos. Era final de era, um ano novo iria começar e os dois tiveram a sorte de estar juntos no primeiro segundo da nova era, a bailarina e o astronauta cobertos por ventos de felicidade, pisando em areia de amor em frente ao mar da paixão, e assim foi... Até onde deu.

E eu só preciso lembrar da parte boa da história, não importa se depois a bailarina foi arrastada por um vento muito forte, não importa também se o astronauta chora até hoje pela partida da amada, não importa se agora ele vai embora pra esquecê-la, o que importa é que eles ainda se amam, o que importa é que o melhor da história está dentro do coração.

O corpo é mais uma forma de comunicação, maneira de se expressar, com os olhos, com a boca, com os braços, com tudo o que esteja ao alcance do outro. O corpo é só mais um atrativo. O corpo é o falar.

15 março, 2010

E vamos...


Conversando com ele descobri que somos fantásticos, fortes o bastante pra nos levantar sozinhos do tombo que nós mesmos provocamos. Aprendi que chorar soluçando também é falar, que um abraço apertado tem cheiro bom, que nem mesmo o tempo se apressando cura um amor.
De certa forma estamos na mesma canoa furada, remando para o que sobrou da felicidade, mas essa é a melhor parte, nós vimos de longe a chegada de um novo começo, de um novo ciclo. Sempre é! Se quiser a gente pode casar, podemos juntar nossas caixas de lembrança e fazer um museu de amor, e sabemos mais do que ninguém o quanto amamos esses seres mutáveis, tão humanos quanto nós, tão amáveis, e tão nossos, tão do mundo.
E eu vou prosseguir nessa estrada que vai pro Norte, estou desenhando as leves sombras desse nosso novo mundo, e se quiser eu posso te levar comigo, e se quiser você já está comigo, te levo comigo pra qualquer lugar onde meu coração possa entrar. Entraremos no próximo portal, levando as lembranças e fazendo chover lágrimas desses olhinhos apertados. Ainda dá pra meditar bebendo chá verde, de coração aberto.

14 março, 2010


Carrego um orgulho que não me leva a nada, não traz ninguém, que não me seca. Esse meu orgulho não vai fazer aqueles voltarem, aqueles de um, no feminino, aquela. Aquela por quem suplico e reviro todas as caixas do passado, transbordo amor e seco a dor com seus próprios cabelos, tanto ar. Quem sabe no último segundo antes do verão distante, depois da última lágrima.
O que faz desse o meu maior sonho é a certeza de que não é um sonho.

Deste lado


Os passos para caminhos opostos podem ser bem contraditórios, mas isso é só uma hipótese.