27 abril, 2011

Eu de certa forma tenho me importado menos com as coisas do cotidiano. É aquela velha impressão de ter se doado demais nos últimos tempos; preciso beber um pouco de água e apagar as luzes.
Vivo refazendo os textos, bagunçando os cabelos. Durmo mais do que devia, e trabalho com a mesma intensidade.
Tenho me distraído demais pensando em fugas, fazendo cartas pra mim mesma, trocando fralda de bebê, comprando cuecas, contando cigarros apagados. Algumas coisas foram acrescentadas na rotina, e na idade, nas curvas crescendo... Amadurecendo, esquecendo.

As atrizes - Chico Buarque

Naturalmente
ela sorria
Mas não me dava trela
Trocava a roupa
Na minha frente
E ia bailar sem mais aquela


Escolhia qualquer um
Lançava olhares
Debaixo do meu nariz
Dançava colada
Em novos pares
Com um pé atrás
Com um pé a fim

Surgiram outras
Naturalmente
Sem nem olhar a minha cara
Tomavam banho
Na minha frente
Para sair com outro cara


Porém nunca me importei
Com tais amantes
Os meus olhos infantis
Só cuidavam delas
Corpos errantes
Peitinhos assaz
Bundinhas assim

Com tantos filmes
Na minha mente
É natural que toda atriz
Presentemente represente
Muito para mim.

Ficando por lá

Dentro da minha solidão cabe uma vida toda, e nessa vida alguns medos, meus e dos que por aqui passaram deixando suas roupas, suas meias, suas dores pra juntar com as minhas. Mas até pra falar do nada eu precisei ser alguma coisa,
e confesso que fui, muitas.
Alguns me levaram pra longe e por lá fiquei, sem malas ou olhos de tinta, fiquei e não procurei voltar pra mim por que talvez fosse um caminho longo e sem volta. Voltar seria burrice.

01 abril, 2011

Vazio

O homem tem se perdido dentro do próprio espelho
Preguiça de caminhar, metas pra cumprir
Parece que guarda o amor engomado na gaveta

Joga isso pro alto
Chuta, morde, cospe, amassa, só não guarda
O que é bom foi feito pra ser usado (e o que não é também)

Não faz mais sentido silêncios eternos
Faz-se música das dores
Minhas, suas, inexistentes

Uma hora a gente cansa de ser vazio
É preciso se afogar no outro
Se perder num vazio ainda maior

Não importa se é poeta, músico, ator
O buraco é fundo e seco
A minha cicatriz não é maior que a sua

Perdeu a graça esperar
Ver a desistência nos olhos
Falar pra quem acha bonito e vira as costas

Se venda com moderação
Não espere sua vez de falar
Nem espere que alguém fale.