31 agosto, 2009

O que vem do olhar


Imploro tua falta de acordar
A expressão feita a dedo no inferior do olho
O quão é belo, as cicatrizes naturais do teu rosto
Revirando as noites pelo avesso
Traduzindo no olhar a aversão
Inclino-me com repulsa para a tão perfeita curva que
faz sombra, tal sombra mórbida que encanta
Há de hospedar para sempre em minha face
tão grandiosa marca, junto aos olhos
fazendo um contorno só do que para mim chega a imensa perfeição.

Leprosas em vida


Das cores que sobraram inundando o céu chocolate,
o menininho do olhar negro de chão e pedra que tem
o coração de gelo derretido.
E o melhor é ela, tão branca e sombria com aqueles
olhinhos coloridos e turvos que só me cercavam,
puderam eles voltar da onde não deviam ter saído.
"Tenho medo de gente" falava ela, e eu pensando aqui
no seu tom de voz amedrontado ou sarcástico,
imagino os agudos e graves.
E enfim chegaram os dias frios, molhados e com sede
de novas palavras e tons, eles vieram gritando alto!

Ida e volta


As páginas desse livro foram rasgadas
Os corpos foram banhados nas águas mais frias
Tardes ébrias e escuras feitas de calafrios
Aquelas nuvens que se dissolveram trazendo a chuva

Depois que a sombra se foi o dia hoje amanheceu
Mais claro, motivos óbvios

Mas agora o céu de tão limpo não trás nada
As nuvens , todas elas, se foram
Realmente fazem falta as espumas intocáveis

O sol agora faz meu sangue ferver
A minha letra em azul no ar se transformou
Em restos de gratidão, sem memória

E de repente elas se formam novamente
Vejo tudo, meus olhares atentos a cada movimento
A jornada do nada para nada
Pálidas em vida, cinzas também em vida
Se não for um sinal parece chegar perto
Que seja, vou atender ao pedido das almas

Um toque distante de amor infernal
Me matou, o matei, matarlhe-ei, matarei
Para que o ciclo se repita novamente


Morri pela segunda vez hoje!

20 agosto, 2009

Agridoce

A palavra grega EROS denota desejo, carência,
o desejo daquilo que falta.
O amante quer aquilo que não tem. É por definição
impossível para ele ter aquilo que quer.
E...logo que ele tenha...não quer mais.

19 agosto, 2009

Escorre, e-s-c-o-r-r-e!


Escorre assim, da mesma forma
que liquidamos as preces,
mortas em névoas.
Escorres por mim como a luz que vejo,
das bandeiras que pedem socorro,
de tantas pessoas que ainda não sabem falar
( o falar das sombras ).

Conquista-me com teu sorriso elétrico,
olhos que nasceram dez anos antes do corpo,
pés na cabeça, pés de cabeça.
Devora-me ou te decifro
( e esse seria um erro muito grave )
Escorres como formol pela garganta,
como a saliva que eu derramei
sobre ti.
Num outro dia qualquer,
escorres como meu corpo sobre o teu.

Mancha

Nossos pequenos acidentes de todos os dias.
Você está bem agora, cinco minutos se passam
e alguém morre, o sangue se dilata no corpo,
quem se importa?! Ele vive se formando,
uma vez, mais uma, outra...
Cabeças vão rolar enquanto viveres,
ele sempre me dizia antes de dormir..
Sempre!
Quem se importa?! Ele nunca mentiu!
Acidentes todas as tardes em sua casa,
falsos, escandalosos, sutis, reais até
onde quiseres, todos antes das seis.

E assim continua,
malditas garrafas que andam por meu
caminho. Sei que as jogam por propósitos
mundiais, não sou a base disso.
Não sou nem serei a pessoa pela qual
irás mudar por um dia da semana,
sexta-feira, quem sabe.
E por favor me indique o caminho,
esqueci meus olhos em casa
ao fechar a geladeira.

Quando andei descalça a chuva queimou
meus pés..
Descobri que meus abraços tem cheiro
amargo e triste, um péssimo dia para
ler recados, disse o diário do mago.
Por que com você os abraços tem cheiro
de saudade? Prometi nunca usar essa palavra,
termo sem sentido, nem existe (também adoro mentir).
E então, passo os dias pensando nos
aniversários, na verdade não tenho o que
pensar nas tardes. A falta do que fazer
quebra a barreira do som, acabo lendo as
mesmas palavras no mínimo três vezes,
no fim esqueço, é normal.

As manchas voltam,
todas as tardes a ferida se abre,
ela respira tão forte que acaba vomitando
pra fora da carne, o chão foi pintado
de vermelho por toda a semana,
tão vivo! E todo dia quando respiro
forte vomito as palavras, muitas vezes
meus restos são você, você que é o
resto das suas palavras, as que são feitas
de pulmão e fígado!

17 agosto, 2009

Segunda-feira de cinzas


O mais belo de um dia,
está chovendo, e como está.
Na mesma intensidade que chove
dores, de todas as formas,
todos os sabores (e que sabores)...

Não sabes mas, a chuva tem um poder
tão grande. És dona da chuva,
só fazes chover, do acordar ao fim
do dia. Contando as gotas,
pintando as nuvens cinzas,
degustando os medos, destilando
perfume.

Pode chover..
Enquanto o céu muda a cada dia,
pondo e repondo o cinza, azul,
branco.. Continuo no castanho.

15 agosto, 2009

O acordar


Receio que pela manhã nos falta ar.
Um ou dois goles de fumaça, pura
e seca, o doce morrer do mar.
Perguntas sem respostas,
madeira polida, fogo no rosto.

Acabei os colocando em primeiro lugar,
como faço sempre.
E não por escolha lógica
ou de princípios emocionais,
quem sabe fora pelo imenso frio que eu
sinto a noite e ao olhar para o lado
estão todos dormindo depois
das noites que não terminam.

Todo dia, todo dia.

E quando faz de mim,
um contorno não tão perfeito
quanto o da tua boca a morder..
A que não é minha.
E se ousa fugir irá encontrar
em minha armadura o mais belo
lugar para morar, sobre meu
peito, teu lugar.

Ouça-o falar, não sinta,
ouça e esqueça. Por que nessas
paixões sobre aventuras
restam as marcas, aquelas que irão
doer mais do que suas feridas
não cicatrizadas..
As que eu não deixei.

Então torça, retorça e implore,
acabaram-se os dias de tua glória,
quem dera eu ter o poder de te
fazer matar mais do que amar,
quem dera pudera manter-me
apaixonada por toda a vida
só para ter em quem pensar
todos os dias.

12 agosto, 2009

Não!

Então tá, se tudo começa com um "sim" vou mudar
o final da história.
Nos nossos tempos de morango, um acender
e apagar de sonhos, meu niilismo e o seu, unidos
por nada e para nada.
Então me diz, o que eu faço ao teu lado
todo esse tempo? Será que a ironia do amor
não explica as coisas da carne?
Se é carne então devore, acabe logo com
o sangue a escorrer por entre seus dentes.

Não, não me deixe a te olhar sem nada a receber.
Não me deixe sentada na cama esperando o teu
braço a agarrar-me, me fale sobre o seu dia,
mas não me solte.
Então me canse, me sufoque mas não pare,
não me solte, n-não s-solte.
Então canse, sufoque e pare,
pare e me solte.

08 agosto, 2009

Eu e eu.. e você!

Puxando-te pelo cordão do pescoço
Línguas afiadas vagando por entre as orelhas
Taça de vinho e maço de cigarro
Portões de fogo a incendiar o corpo

Na tua boca que forma a mais perfeita
curva de desejo perdido
No queixo pontudo que fura meu rosto

Sobre a lua os cabelos voando e
nossos sorrisos ardentes
Sonhos que se repetem no acordar e no
dormir de mim

No fim dos tempos os desejos retornam
As vontades se renovam e a paixão se cala
Acomodada aos travesseiros por sentir
Um cheiro forte que toma o quarto

No começo e no fim de mim
Nas lembranças daqueles ventos
Dos pés descalços
Eu e eu.. e você!

06 agosto, 2009

Para alimentar os lobos.


O ama como se fosse o único
De poesias a fotografias
Entre tantos o primeiro
Que me causa desprezo
Entre tantos o primeiro
Que a faz feliz

Por entre os cachos seus dedos
Me perdoa se te odeio
Talvez não quisesse
Mas com a razão não tem jeito

Pensamentos que não se encaixam
Sorrisos que não se encontram
Mãos que não se tocam
Olhares que não se cruzam

Me perdoa se te odeio
Mas questão de signo não se discute
No inferno astral da minha vida
Você é um rei sem trono

Com ausência de rimas
Ou das melodias que gritam "meu bem"
Está em suas mãos parte da minha vida
Sua namorada me roubou o coração

Se fosse ciúme você apenas estaria morto
Mas como é ciúme eu que morri
Mas como não é apenas isso
Estamos vivos e eu sempre a odiar

Talvez seja sua perfeita imperfeição
De se manter calmo e conseguir seduzir
A menina dos olhos de mel
Ou talvez seja seu jeito estranho de andar
e falar
E com certeza é por que você a roubou de todos

Ela te escolheu e deixou os outros
Os deixou (nos deixou)
Para viver um romance florestal
Onde ela é a comida do lobo

Me perdoa se te odeio
Mas é que os pensamentos dela não mudam de frequência
Os dedos dela não escrevem outras coisas
Os olhos não brilham mais para mim
Os cigarros foram apagados
Meu pulmão e meu fígado estão limpos
E meu ódio por fim, aqui

Me perdoa se te odeio
Mas é que as vezes eu me odeio também..

Por fim, parei de viver!

05 agosto, 2009

Quase despedida.

De tantos medos possíveis
tomei a liberdade de impor meu futuro,
por entre cabelos oleosos
e bocejos às 7:41 da manhã de quarta,
dia 5 de agosto.
No quarto dia do mês as decisões
estão claras. No meu quarto as
claras paredes tomaram das decisões,
são amarelas.

Decidi, então!
Decidi não mandar as cartas (não mais).
E também não aparecer gritando a
sua porta (por mais).
Perder a voz quando fora cantar nossa música (até mais).
E vou parar de escrever (sem mais).

Desisti, então!
Se não posso fazer o impossível
que ao menos ajude-o a se apressar (o tempo).
Que me leve ou te leve, para sempre!
E se não for possível que releve.
Meu erro tentou ser certo como todos os
outros, e falhou junto a todos que tentaram.

Sabendo das incertezas da vida,
das idas e voltas de mim, de você,
resolvi dar uma chance (a última)
para aquilo que chamam de amor.